Fábio Miguez

Fábio Miguez - Coleções (Díptico)

Coleções (Díptico)

óleo sobre madeira
2007
80 x 60 cm / 60 x 80 cm
assinatura no verso

Fábio Miguez (São Paulo SP 1962)

Pintor, gravador, fotógrafo.

Em 1980, Fábio Marques Miguez inicia curso de arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP. Nos dois anos seguintes também estuda gravura em metal com Sérgio Fingermann. Entre 1983 e 1985, integra o ateliê Casa 7, juntamente com Carlito Carvalhosa, Nuno Ramos, Paulo Monteiro e Rodrigo de Andrade. No início, sua obra, realizada em grandes formatos, apresenta pinceladas amplas e cores fortes, uma fatura expressiva, que se aproxima da transvanguarda italiana e do neo-expressionismo. O artista passa a realizar, no fim dos anos 1980, telas abstratas carregadas de matéria pictórica, que tendem ao monocromatismo, utilizando tons rebaixados. Já nas telas produzidas a partir da metade dos anos 1990, os planos de fundo passam a ser frequentemente grandes áreas cinzas ou brancas, e o artista explora a diluição da tinta e a intensificação das cores. A fatura torna-se mais transparente. Paralelamente, o artista dedica-se à fotografia. Na série Deriva, realizada entre 1993 e 1994, apresenta paisagens de um canto de praia, nas quais os acidentes geográficos e os corpos sólidos são apresentados em meio a uma atmosfera enevoada.

Comentário Crítico

Na metade da década de 1980, Fábio Miguez pinta paisagens que têm caráter quase abstrato. Como os outros artistas da Casa 7 - grupo do qual faz parte -, ele apresenta em sua obra pinceladas amplas e cores fortes, uma fatura expressiva, em grandes formatos, que se aproxima do neo-expressionismo. O artista produz, no fim dos anos 1980, telas abstratas carregadas de matéria pictórica, que tendem ao monocromatismo, utilizando tons rebaixados: marrom, cinza e preto. Como nota o crítico Roberto Pontual, essas obras são sóbrias, com poucos contrastes, fechadas no emaranhado de pinceladas, porém enérgicas no princípio de construção que ali tenta firmar-se. Posteriormente, usa uma gama cromática variada e luminosa.

Passa a explorar a diluição e a intensificação das cores em quadros nos quais os planos de fundo tornam-se frequentemente grandes áreas cinzas ou brancas, em telas da metade da década de 1990. A fatura é mais transparente e as tintas são mais diluídas. Em seus quadros apresenta áreas marcadas pela gestualidade aliadas a outras de caráter evanescente. Na opinião do historiador da arte Rodrigo Naves a produção de Miguez revela afinidade com a do artista holandês Bram van Velde, com suas áreas de cor matissianamente alegres e estrutura disforme e ameaçadora, além do diálogo com obras de Jorge Guinle.

Em pinturas exibidas a partir de 2001, as formas diluídas de suas telas são apresentadas juntamente com elementos geométricos, de cores mais intensas. Essas formas geométricas parecem flutuar em um plano acima daquele das manchas cromáticas. Miguez explora assim o espaço pictórico, construído por diferentes densidades de cor. Em algumas obras, emprega elementos de madeira colados aos quadros, que criam uma diferença de profundidade no espaço pictórico e reforçam a idéia da solidez dos elementos geométricos, em oposição a áreas onde as tintas são mais fluidas e a fatura mais rala e transparente.

O artista dedica-se também à fotografia. Na série Deriva, realizada entre 1993 e 1994, mostra paisagens de um canto de praia, nas quais os acidentes geográficos e os corpos sólidos estão em meio a uma atmosfera enevoada. Miguez explora as experiências óticas de aproximação e distanciamento, e da dissolução ou indefinição das superfícies. Pelo registro da neblina e do movimento das ondas do mar, destaca a instabilidade da paisagem, criando imagens que aparentam ser passageiras. Para o crítico Alberto Tassinari, essas fotografias indicam questões retomadas posteriormente pelo artista em seus quadros. Assim, as ondas ou a neblina são a forma que a instabilidade assume nas fotografias, e que nas pinturas são exploradas de diversas maneiras, por pares de oposição que não privilegiam nenhum de seus pólos: o definido e o indefinido, o aglomerado e o disperso, a indiferença e o contraste.

Críticas

"Diferentemente da pintura de Nuno, que vive na impossibilidade do plano e assim no descentramento do sujeito, cuja presença só pode ser resgatada na indiferenciação turbulenta da matéria, a de Fábio Miguez pressupõe uma ação continente sobre esta, e daí um sujeito em tensão permanente com o suporte que então resulta. Não se trata, evidentemente, do elogio do sujeito em possível extroversão expressiva, já que sua ação no enfrentamento da matéria acaba sendo quase calculada, estratégica, levada passo a passo. Por isso não tem nada de grandioso, da vontade de uma experiência imediata e total do mundo. Parece ser dotada de uma sabedoria dos pequenos ganhos, ciente de que o sujeito já não ocupa o centro do campo visual, e também de que mesmo a farsa de um sujeito confiante no mundo das aparências seria excessiva neste caso. A subjetividade é aqui então rarefeita, dispersiva depositando-se com lassidão pelos grumos de pigmentos que despontam com certa regularidade e monotonia sobre a tela. Parece estar em jogo uma matéria incapaz de infundir-se imediatamente de expressividade, de animar-se de presença. Mas a uma tal situação corresponde um sujeito que deve intensificar sua ação, ainda que creia que isto só possa se dar discreta e lateralmente. Por isso, não há aqui propriamente o trabalho do pintor, pois os acúmulos de tinta brotam como excessos, secreções do suporte. A ação da pintura se inicia no momento de administrar essa irrupção opaca e indiferente da matéria, de qualificá-la pelo trabalho do olho que aplaina os grumos, apara os excessos, dá-lhes sentido e constitui o plano: humaniza-os".
Sônia Salzstein Goldberg
GOLDBERG, Sônia Salzstein. Questão de materialidade. Guia das Artes, São Paulo: Casa Editorial Paulista, v. 3, n. 11, p. 42-46, 1988.

"Partindo de um enfrentamento mais pictórico do que propriamente de um corpo-a-corpo com o mundo, a pintura de Fábio Miguez vai obtendo resultados inesperados. Agora, por todos os lados nos vemos acossados pelo mundo, numa proximidade tal que mal obtemos aquela distância mínima que possibilita o recorte das coisas. Falar de percepção, portanto, torna-se aqui quase um paradoxo. E como carecemos de um afastamento que propicie a apreensão dos objetos, também a ordenação dos quadros se vê dominada por essa proximidade asfixiante: matéria, cor e forma se mesclam gordurosamente, sem que sobressaia com clareza um princípio qualquer que indique o caminho de uma organização formal. Parece então que o ciclo se fecha. É justamente no momento de retomada da força sensível - que começa a se anunciar - que essa pintura passará pela prova decisiva. Parece inevitável que toda grande produção de arte tenda, de saída, a ser toda a arte. Apenas posteriormente é que filiações e vínculos podem se estabelecer. Nesse momento de suspensão das certezas se estabelecem novos nexos entre forma e percepção, entre mundo e expressão. Me parece inegável que Fábio Miguez tenha essa motivação".
Rodrigo Naves
JAÚ e arte: um compromisso. Apresentação de Marcantonio Vilaça. Textos de Lorenzo Mammi et al. São Paulo: Jaú Construtora e Incorporadora, 1989.

Exposições Individuais

1988 - São Paulo SP - Individual, Paulo Figueiredo Galeria de Arte
1988 - Rio de Janeiro RJ - Individual, Funarte. Galeria Macunaíma
1991 - São Paulo SP - Individual, Paulo Figueiredo Galeria de Arte
1991 - Recife PE - Individual, Espaço Pasárgada
1995 - Curitiba PR - Individual, Galeria Casa da Imagem
1995 - São Paulo SP - Fábio Miguez: pinturas, Galeria Millan
1995 - São Paulo SP - Fábio Miguez: pinturas, Marília Razuk Galeria de Arte
1997 - Rio de Janeiro RJ - Individual, Paço Imperial
1998 - Belo Horizonte MG - Individual, Celma Albuquerque Galeria da Arte
1998 - São Paulo SP - Individual, Marília Razuk Galeria de Arte
2001 - São Paulo SP - Individual, Centro Universitário Maria Antonia
2001 - São Paulo SP - Individual, Marília Razuk Galeria de Arte
2002 - São Paulo SP - Individual, Galeria 10,20 x 3,60
2002 - São Paulo SP - Individual, Centro Cultural São Paulo
2003 - São Paulo SP - Individual, Pinacoteca do Estado
2004 - São Paulo SP - Compensados, Marília Razuk Galeria de Arte
2006 - São Paulo SP - Onde, Galeria Millan Antonio
2008 - São Paulo SP - Temas e Variações, Instituto Tomie Ohtake

Exposições Coletivas

1981 - São Paulo SP - Pintura na Cidade, FAU/USP
1982 - São Paulo SP - Pinturas e Gravuras, Universidade de São Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
1984 - Piracicaba SP - 16º Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba
1984 - Rio de Janeiro RJ - Arte na Rua 2, outdoors espalhados pela cidade 
1984 - São Paulo SP - 2º Salão Paulista de Arte Contemporânea, Museu da Imagem e do Som
1984 - São Paulo SP - Arte na Rua 2, outdoors espalhados pela cidade
1984 - São Paulo SP - Coletiva com o Grupo Casa 7 e Sérgio Fingermann, Centro Cultural São Paulo
1985 - Rio de Janeiro RJ - 8º Salão Nacional de Artes Plásticas, Museu de Arte Moderna - Prêmio Aquisição
1985 - Rio de Janeiro RJ - Casa 7, Museu de Arte Moderna
1985 - São Paulo SP - 12 Artistas Paulistas, Subdistrito Comercial de Arte
1985 - São Paulo SP - 18ª Bienal Internacional de São Paulo, Fundação Bienal
1985 - São Paulo SP - Casa 7: pintura, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
1985 - São Paulo SP - 3º Salão Paulista de Arte Contemporânea, Fundação Bienal
1986 - Belo Horizonte MG - 9º Salão Nacional de Artes Plásticas: sudeste, Fundação Clóvis Salgado. Palácio das Artes
1986 - Buenos Aires (Argentina) - 1ª Bienal Latino-americana de Arte sobre Papel, Museo de Arte Moderno de Buenos Aires - menção honrosa
1986 - Havana (Cuba) - 2ª Bienal de Havana
1986 - Rio de Janeiro RJ - 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, Museu de Arte Moderna - Prêmio Aquisição
1986 - Rio de Janeiro RJ - 1ª Mostra Christian Dior de Arte Contemporânea: pintura, Paço Imperial
1987 - Rio de Janeiro RJ - Ao Colecionador: homenagem a Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna
1987 - São Paulo SP - 5º Salão Paulista de Arte Contemporânea, na Pinacoteca do Estado
1988 - Rio de Janeiro RJ - 10º Salão Nacional de Artes Plásticas, Funarte - Prêmio Aquisição 
1988 - Rio de Janeiro RJ - Projeto Macunaíma, Fundação Nacional de Artes. Centro de Artes
1988 - São Paulo SP - MAC 25 Anos: aquisições e doações recentes, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
1989 - Jaú SP - Jaú e Arte: um compromisso
1989 - São Paulo SP - 20ª Bienal Internacional de São Paulo, Fundação Bienal 
1989 - São Paulo SP - 7 Artistas, Paulo Figueiredo Galeria de Arte
1989 - São Paulo SP - Perspectivas Recentes, Centro Cultural São Paulo
1990 - Los Angeles (Estados Unidos) - Brazil Projects´90, Municipal Art Gallery
1990 - São Paulo SP - 10 Artistas, Paulo Figueiredo Galeria de Arte
1990 - São Paulo SP - Brazil Projects´90, Museu de Arte de São Paulo
1991 - Cuenca (Equador) - 3ª Bienal Internacional de Cuenca
1991 - Piracicaba SP - Artistas Contemporâneos no Engenho Central, Engenho Central
1992 - Rio de Janeiro RJ - 13 Artistas, Museu de Arte Moderna
1992 - São Paulo SP - 13 Artistas, Paulo Figueiredo Galeria de Arte
1992 - São Paulo SP - João Sattamini/Subdistrito, Casa das Rosas
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, Fundação Bienal
1995 - Londrina PR - Arte Brasileira: Confrontos e Contrastes, Pavilhão Internacional Octávio Cesário Pereira Júnior
1995 - São Paulo SP - Anos 80: o palco da diversidade, Galeria de Arte do Sesi
1996 - Niterói RJ - Arte Contemporânea Brasileira na Coleção João Sattamini, Museu de Arte Contemporânea
1997 - São Paulo SP - 25º Panorama de Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna
1998 - Belo Horizonte MG - Celma Albuquerque Galeria de Arte, Celma Albuquerque Galeria de Arte
1998 - Goiânia GO - Os Anos 80, Galeria Potrich Arte Contemporânea
1998 - Niterói RJ - Espelho da Bienal, Museu de Arte Contemporânea
1998 - Niterói RJ - 25º Panorama de Arte Brasileira, Museu de Arte Contemporânea
1998 - Recife PE - 25º Panorama de Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães
1998 - Salvador BA - 25º Panorama de Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna
1998 - São Paulo SP - O Colecionador, Museu de Arte Moderna
1998 - São Paulo SP - O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM/RJ, Museu de Arte de São Paulo
1999 - Ribeirão Preto SP - Célia Euvaldo, Fabio Miguez, Laura Vinci, Renata Tassinari, Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi
2000 - Niterói RJ - Pinturas na Coleção João Sattamini, Museu de Arte Contemporânea
2000 - São Paulo SP - Os Anjos Estão de Volta, Pinacoteca do Estado
2001 - Rio de Janeiro RJ - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, Paço Imperial
2001 - Rio de Janeiro RJ - O Espírito de Nossa Época, Museu de Arte Moderna
2001 - São Paulo SP - Espelho Cego: seleções de uma coleção contemporânea, Museu de Arte Moderna
2001 - São Paulo SP - O Espírito de Nossa Época, Museu de Arte Moderna
2002 - Niterói RJ - A Recente Coleção do MAC, Museu de Arte Contemporânea
2002 - Rio de Janeiro RJ - Caminhos do Contemporâneo 1952-2002, Paço Imperial
2002 - São Paulo SP - 10 Anos Marília Razuk, Marília Razuk Galeria de Arte
2002 - São Paulo SP - 28 (+) Pintura, Galeria Virgílio
2002 - São Paulo SP - Programa Anual de Exposições de Artes Plásticas, Centro Cultural São Paulo
2003 - Belo Horizonte MG - Fabio Miguez, Rodrigo de Castro, Sérgio Sister, Celma Albuquerque Galeria de Arte
2003 - São Paulo SP - 2080, Museu de Arte Moderna de São Paulo
2004 - Niterói RJ - Pintura e Desenho - 90/00, MAC-Niterói
2004 - Rio de Janeiro RJ - Onde Está Você, Geração 80?, Centro Cultural Banco do Brasil
2004 - São Paulo SP - Arte Contemporânea no Acervo Municipal, Centro Cultural São Paulo
2005 - Porto Alegre RS - 5ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
2005 - São Paulo SP - Artistas da Galeria Millan Antonio na 5º Bienal do Mercosul, Galeria Millan Antonio
2006 - Belém PA - Traços e Transições da Arte Contemporânea Brasileira, Espaço Cultural Casa das Onze Janelas
2006 - São Paulo SP - Paralela 2006, Pavilhão dos Estados
2007 - São Paulo SP - Itaú Contemporâneo: arte no Brasil 1981-2006, Itaú Cultural
2008 - São Paulo SP - MAM 60, Oca
2009 - Niterói RJ - Arte Contemporânea Brasileira nas Coleções João Sattamini e Mac de Niterói, Museu de Arte Contemporânea
2009 - São Paulo SP - Vértice, Galeria Millan

Fonte: Itaú Cultural