Galileo Emendabili

Galileo Emendabili - Índia

Índia

grafite sobre papel
205 x 95 cm
assinatura inf. dir.
Galileo Emendabili - Índio Matando Sucuri

Índio Matando Sucuri

bronze
1936
15 x 8 cm
assinatura na peça
Participou da exposição retrospectiva "Galileo Emendabli" no Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1987, citado no catálogo da mostra.

Galileo Emendabili (Ancona, Itália 1898 - São Paulo SP 1974)

Escultor.

Matricula-se, em 1915, no curso especial de escultura da Academia Real de Belas Artes de Urbino, na Itália, e estuda com Domenico Jollo. Posteriormente, freqüenta o ateliê de Arturo Dazzi (1881 - 1966), em Roma, e tem contato com obras de Ivan Mestrovic (1883 - 1962), Arturo Martini (1889 - 1947) e Adolfo Wildt (1868 -1931). Em 1921, executa o monumento tumular do republicano Giuseppe Melon, em Ancona, Itália. Vem para o Brasil em 1923, fixa-se em São Paulo, onde trabalha como entalhador no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo - Laosp. Em 1925, ganha o 1º prêmio no Concurso Internacional para o Monumento a Pereira Barreto, inaugurado em 1928, na Praça Marechal Deodoro. No ano seguinte, vence o concurso para o Monumento a Ramos de Azevedo, inaugurado em 1934, e atualmente instalado na Cidade Universitária, e o concurso para o Monumento aos Heróis Constitucionalistas de 1932, conhecido como Obelisco, no Ibirapuera. Executa monumentos funerários para os cemitérios São Paulo, da Consolação e do Araçá. Inicia, na década de 1960, trabalhos em desenho, aquarela e cerâmica. Em 1982, é realizado o vídeo Ancona - San Paolo Solo Andata, pela Rádio e Televisão Italiana, sobre sua produção. É publicado, em 1997, o livro Monumento a Ramos de Azevedo: Do Concurso ao Exílio, organizado pela historiadora e crítica de arte Annateresa Fabris, juntamente à mostra sobre a história do monumento na Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp.

Comentário Crítico

Galileo Emendabili tem uma ampla produção em São Paulo, cidade onde chega em 1923. Vence, em 1929, o concurso internacional para a realização do Monumento a Ramos de Azevedo, atualmente na Cidade Universitária. Nessa obra, de concepção clássica, apresenta a estátua do arquiteto, com tratamento realista, associando sua imagem a figuras alegóricas que simbolizam as ciências e as artes e, por fim, progresso, representado em um grande grupo no topo do monumento, composto por um cavalo alado e pelas figuras do Gênio e da Vitória. Em 1934, o escultor realiza uma de suas obras mais famosas, o Monumento aos Heróis Constitucionalistas de 1932, localizado no Parque do Ibirapuera. Com a forma plástica de um obelisco, conta com vários painéis em alto-relevo, de grande síntese formal e marcante expressividade, e ainda com mosaicos desenhados pelo próprio artista.

Emendabili realiza inúmeros monumentos fúnebres para cemitérios em São Paulo, como Ausência, 1944, Paternidade e Porta Místico-Profana, ambas de 1948. Para o historiador da arte Tadeu Chiarelli, nesses trabalhos o escultor apresenta um diálogo com o Novecento italiano, especialmente com a poética de Mario Sironi (1885 - 1961), na recuperação de valores estéticos do Renascimento italiano e na retomada da sua tradição decorativa e monumental.

Críticas

"Galileo Emendabili é uma 'virtuose' da escultura, que marcou bem nitidamente a sua presença em S. Paulo, através de obras que são, muitas delas, verdadeiras obras-primas. Escultor de pura formação clássica, atingiu sua plenitude, como  artista, sem fazer concessões aos modismos em voga, antes abrindo o seu próprio itinerário.

Consciente da integração da escultura nos grandes princípios que informam a arquitetura, Galileo Emendabili magistralmente cinzelou a matéria.

A leveza de sua composição, sua apurada síntese, seu equilíbrio harmonioso em relação ao todo, e sua concepção perfeita da escultura dentro desse todo - essas virtudes fazem de Emendabili um escultor que há de ficar para sempre na história das artes plásticas pelo seu notável valor artístico. Emendabili dá-nos uma bela imagem de grandeza".
Sergio Milliet
MILLIET, Sergio. O Cinzel de Emendabili. In: GALILEO Emendabili. São Paulo: Instituto Italiano di Cultura, MASP, 1987. p. 92.

"O interesse por sua obra (...) não reside apenas na sua presença pública e na propriedade inegável de suas qualidades escultóricas mas, igualmente, pelo fato de ela poder ser pensada como a estruturação de uma poética determinada, a partir da absorção de influxos típicos do debate escultórico europeu e internacional da passagem do século e das primeiras décadas do século XX. Refiro-me ao embate entre um conceito de escultura baseado na revalorização dos ideais ´clássicos´ da arte e aquele voltado para uma práxis escultórica que rompia com aqueles postulados tradicionais da linguagem em questão. Tentando desde já situar a obra de Emendabili dentro deste universo, pode-se dizer que o escultor italiano desenvolve toda a sua obra no sentido de restauração dos conceitos mais tradicionais da escultura. Porém, o sentido restaurador da estatuária emendabiliana não se dá absolutamente em chave acadêmica, tendente à cristalização de conceitos e efeitos consagrados. Se ela não se desenvolve a partir da tradição moderna institucionalizada - Rodin, Brancusi, Arp, etc. -, traz, no entanto, a contaminação de expedientes formais também significativos para uma compreensão mais abrangente da escultura deste século. A princípio, a obra de Emendabili poderia ser colocada no interior de uma outra tradição menos prestigiada, talvez, porém não menos significativa. Refiro-me à tradição do retorno à ordem na escultura deste século que, partindo das teorias e da produção artística do escultor alemão Adolf Hildebrand, passaria - com as devidas adaptações -, por Maillol, Mestrovic, Wildt, Barlach, Wotruba, no plano internacional, e, no cenário brasileiro, por Victor Brecheret, Bruno Giorgi, Ernesto de Fiori e outros. Dentro dessa tradição, Galileo Emendabili desenvolveria uma obra extremamente singular, repleta de momentos em que o artista alcançaria com grande felicidade a síntese entre forma e conteúdo, sempre tão desejada pelos artistas deste século".
Tadeu Chiarelli
Chiarelli, Tadeu. A obra de Galileo Emendabili: síntese e superação de influências. In: FABRIS, Annateresa (org. ) Monumento a Ramos de Azevedo: do concurso ao exílio. Campinas: Mercado das Letras, 1997. p. 65-66.

Depoimentos

"Sempre fui um solitário. (...) Não tinha o pendor, nem o gosto da vida social. Mas, a partir do meu contato com os ideais e as idéias defendidas em 1922, não pude mais compreender um monumento como simples embasamento com um boneco em cima. O mais importante na escultura é quando se passa da análise para a síntese. (...) Que adianta ver um troféu com muitos ornamentos? Importa é um troféu despojado. Para isso houve mesmo a necessidade da soda cáustica de 1922, uma autêntica revolução estética de conseqüência fecundas e duradouras".
Galileo Emendabili
GALILEO Emendabili. São Paulo: Instituto Italiano di Cultura, MASP, 1987. p. 16.

"Olhe, meu amigo, na arte é como nas religiões. Existem sempre diversos pareceres. Todo aquele que professa uma religião tem-na por verdadeira [...]. Na arte dá-se o mesmo. Apesar de muitos artistas professarem diversas escolas, todos afinal se esforçam para fazer da arte aquilo que ela: é uma expressão intencional de sensibilidade humana. Acrescento mais. Em todas as escolas há artistas com talento e artista sem talento. Os nomes que ficam joeirados pelo tempo são aqueles que acima das teorias impostas pelas escolas foram profundamente humanos, foram essencialmente indivíduos e, portanto, criadores. A principal finalidade da arte é criar. Quem cria consagra-se. Por isso digo, que apesar de não ter pretensões a uma apoteótica consagração, dentro das formas antigas, pretendi fazer alguma coisa de pessoal. Ser original não é ser extravangante. É acima de tudo, ser pessoal".
Galileo Emendabili - 1929
ZIMMERMANN, Silvana Brunelli. A Obra Escultórica de Galileo Emendabili: uma contribuição para o meio artístico paulistano. Dissertação (Mestrado em Artes) - Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicação e Artes da Universidade São Paulo - ECA/USP. 2000. p. 5.

Exposições Individuais

1923 - São Paulo SP - Individual, na Casa Excelsior
1971 - São Paulo SP - Individual, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo 
1972 - São Paulo SP - 50 Anos de Arte no Brasil: esculturas, arquitetura e desenhos, no Paço das Artes

Exposições Póstumas

1974 - São Paulo SP - Tempo dos Modernistas, no Masp
1982 - São Paulo SP - Um Século de Escultura no Brasil, no Masp
1987 - São Paulo SP - Galileo Emendabili: escultura e desenho, no Espaço Cultural José Duarte Aguiar e Ricardo Camargo
1987 - São Paulo SP - Galileo Emendabili: retrospectiva, no Masp
1994 - São Paulo SP - Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal
1997 - São Paulo SP - Monumento a Ramos de Azevedo: do concurso ao exílio, na Pinacoteca do Estado
1997 - São Paulo SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Belo Horizonte MG - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, no Itaú Cultural
1998 - Brasília DF - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1998 - Penápolis SP - Tridimensionalidade na Arte Brasileira do Século XX, na Galeria Itaú Cultural
1999 - Ancona (Itália) - Galileo Emendabili: uno scultore emigrante nell'Ancona del primo Novecento, na Sale del Lazzaretto Vanvitelliano
2000 - São Paulo SP - A Figura Humana na Coleção Itaú, no Itaú Cultural

Fonte: Itaú Cultural